Uma das faixas coloridas do espectro solar, o amarelo é também cor fundamental ou primitiva. Em cor-pigmento, é uma das três cores primárias (indecomponíveis), tendo por complementar o violeta. Em cor-luz, é cor secundária, formada pela mistura do vermelho com o verde, sendo a complementar do azul. É a mais clara das cores e a que mais se aproxima do branco numa escala de tons.
Nas experiências químicas, surge do escurecimento progressivo do branco. Segundo Goethe, todo branco que escurece tende a tornar-se amarelo, assim como todo preto que clareia tende para a coloração azul. Na distinção psicológica de cores quentes e frias, o amarelo é o termo de definição, por ser a cor quente por excelência.
Misturado ao vermelho, exalta-se, produzindo o laranja. Misturado ao azul, esfria-se e produz o verde. Escurecido com o preto(rebaixado), toma coloração esverdeada pouco agradável, próxima do verde-oliva sombrio. Clareado com o branco (dessaturado), não perde subitamente as qualidades intrínsecas; a gama de tonalidades que vai se formando do amarelo ao branco guarda percentualmente as propriedades da cor original em relação à quantidade de branco usado na mistura.
É pouco visível quando aplicado sobre fundo branco – por isso os pintores e decoradores contornam a área amarela com um filete escuro (debrum), para ressalta-la. Sobre fundo preto ganha força e vibração. Em contraste com o cinza se enriquece em qualidade cromática e beleza. Na pintura, assume geralmente a função de luz, quando se deseja representar as cores naturais numa técnica de tons.
Está situado entre as faixas laranja e verde do espectro e tem um comprimento de onda de 580mm, aproximadamente. No gráfico das cores-padrão organizado pela CIE, a composição típica do amarelo é representada por 916.300 unidades de vermelho, 870.000 de verde e 001.650 de azul.
Em cor-luz, o amarelo forma com o azul um par complementar cuja mistura, em parte ópticas equilibradas, produz o branco, denominando-se tal fenômeno síntese aditiva. É necessário frisar que o azul empregado pelos físicos em tais experiências é um azul-violetado e que o amarelo tende sensivelmente para o laranja. Por revelar em maior grau as características de oposição que totalizam o fenômeno cromático, representadas pela ideia de um mais e um menos, de um quente e um frio, elas foram consideradas, durante muito tempo, como as únicas geratrizes autênticas.
Em cor-pigmento, o amarelo exige o violeta como complementar. Essas duas cores, quando misturadas, produzem o cinza-neutro por síntese subtrativa.
Nas cores-pigmento, os amarelos mais conhecidos são os de cromo, de zinco, de nápoles e de cádmio. Obtêm-se o amarelo de cromo por dupla decomposição das soluções de cromato de sódio e de um sal neutro de chumbo. Seu maior inconveniente, na pintura, é o escurecimento que sofrem presença do hidrogênio sulfurado. O amarelo de zinco é o cromato básico de zinco hidratado. É uma cor bastante firme e resistente à ação da luz e do hidrogênio sulfurado. Sua tonalidade limão é obtida pela junção de cromato duplo de zinco e potássio, coloração ligeiramente esverdeada, muito utilizada pelos pintores devido ao seu tom firme e permanente. O amarelo-de-nápoles é formado por uma combinação de antimoniato de chumbo e de sulfato de cal. Mais usado pelos pintores contemporâneos é o amarelo de cádmio. Uma fórmula de produção consta basicamente da precipitação de um sal de cádmio em contato com o hidrogênio sulfurado. A cor varia do amarelo-limão ao amarelo alaranjado, segundo a acidez do meio em que se realiza a precipitação. Os matizes claros se formam nos meios mais ácidos. Tem ótimo grau de opacidade na cobertura de outras cores e grande permanência de coloração. A todas essas vantagens junta-se a de não ser tóxico.
Segundo Plínio, os autores da Antiguidade não consideravam o amarelo como uma das cores principais, o qual era usado exclusivamente pelas mulheres em seus véus nupciais. “Pode ser que daí venha a origem de não ser incluído entre as cores principais, quer dizer, comuns aos homens e às mulheres; é, de fato, este uso comum que dá o primeiro lugar às cores.”
Esta observação de Plínio evidencia o caráter contraditório que sempre existiu na utilização simbólica da cor. É sabido que o amarelo, desde o Antigo Egito, aparecia nos livros dos mortos, nas decorações de palácios, templos e túmulos, para coloris os corpos femininos, em oposição ao vermelho, empregado para os masculinos. Mas o amarelo também estava ligado ao disco solar e a imagem de Osíris, sendo frequentemente encontrado ao lado do azul nas câmaras funerárias para assegurar a sobrevivência da alma, uma vez que o ouro que ele representava era a carne do sol e dos deuses de ambos os sexos.
Na mitologia Grega, o amarelo do pomo de ouro, símbolo da discórdia, podia guardar certa analogia feminina, mas ao mesmo tempo, contraditoriamente, o amarelo simbolizava o másculo carro de Apolo, o deus da luz. Apesar da variedade de significados atribuídos ao amarelo nos diversos períodos históricos, o que se evidencia, em todos os tempos, é sua íntima ligação com o ouro, o fruto maduro e o sol.
Na Índia, a faca empregada nos grandes sacrifícios do cavalo deve ser de ouro, por que o “ouro é luz e é por meio da luz dourada que o sacrificado ganha no reino dos deuses”, como rezam os textos bramânicos. Para os budistas, o amarelo corresponde ao mesmo tempo ao Centro-Raiz (Mulâdhrachakra) e ao elemento terra (Ratnasambhava), onde a luz é de natureza solar.
Para os chineses, o amarelo ou o preto significam a direção do Norte ou dos abismos subterrâneos onde se encontram as fontes amarelas que levam ao reino dos mortos. O Norte e as fontes amarelas são de essência Yin e também a origem da restauração do Yang. O amarelo associa-se ao preto, como seu oposto e seu complementar. Ambos surgem como diferenciações primordiais – análogas às oposições de forças contrárias como às oposições de forças contrárias como as existentes em Yang e Yin, no redondo e no quadrado, no ativo e no passivo etc. na antiga simbologia chinesa o amarelo emerge do negro, como a terra emerge das águas. O amarelo era a cor do Imperador, por se encontrar no centro do universo, como o sol no centro do firmamento.
Entre os cristãos, o amarelo é a cor da eternidade e da fé. Une-se à pureza do branco, na bandeira do Vaticano. Em vários países simboliza o despeito e a traição. É também o símbolo de desespero, por ser intenso, violento e agudo até a estridência.
Amplo e ofuscante como uma corrida de metal incandescente, é a mais desconcertante das cores, transbordando dos limites onde se deseja encerrá-lo, parecendo sempre maior do que é na realidade, devido à sua característica expansiva. Segundo Kandinsky, o amarelo, representando o calor, a energia e a claridade, assume a primazia do lado aditivo das cores, em oposição à passividade, frigidez e obscuridade representadas pelo azul. Olhando-o fixamente, “percebe-se logo que o amarelo irradia, que realiza um movimento excêntrico e se aproxima quase visivelmente do observador”.
O amarelo com o roxo, aplicados sobre fundo preto, formam a combinação de cores mais usadas na decoração funerária. O amarelo está ligado também à ideia de impaciência. No trânsito, ele significa sinal de espera, chamada de atenção para os sinais verde e vermelho. É usado, ainda, como sinal de alarme sanitário, para indicar áreas contaminadas por doenças contagiosas.
Em heráldica, é substituído pelo esmalte ouro e pela cor dourada. Graficamente, é representado por linhas horizontais interrompidas, formando uma retícula clara. Significa sabedoria, amor, fé, virtudes cristãs e constância.
O topázio, ou citrínio, como também é chamado, variando do amarelo-claro até o ouro velho, é a pedra zodiacal do mês de novembro. Atribuem-se-lhe todas as virtudes do amarelo.
Fonte: Pedrosa, Israel. Da Cor à Cor Inexistente, Rio de Janeiro, Léo Christiano Editorial Ltda. / EDUFF 8ª ed., 2002.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário