A cor da atenção, afiada e ágil, do apetite, da ambição e liderança, dotada de simpatia e alegria. O amarelo é uma das cores mais quentes, uma das mais expansiva, a mais ardente das cores, difícil de atenuar e que extravasa sempre dos limites em que o artista desejou encerrá-la.
Intenso, violento, agudo até a estridência, ou amplo e cegante como o fluxo de metal em fusão. No panteão (templo) asteca, o guerreiro vitorioso, Deus do Sol e do Meio-Dia, é pintado de azul e amarelo. O amarelo, luz de ouro, tem o valor de esmeraldas. No caso do Islã, onde o amarelo dourado significava sábio e de bom conselho e o amarelo pálido traição e decepção.O campo da sua confrontação é a pele da terra, nossa pele, que fica amarela - ela também - com a aproximação da morte.
Kandinsky o percebeu muito bem quando disse:"O amarelo tem uma tal tendência ao claro que não pode haver um amarelo muito escuro."
Pode-se dizer que existe uma afinidade profunda, física, entre o amarelo e o branco. O amarelo é a cor dos deuses: Zoroastro - significa astro de ouro brilhante, liberal, astro vivo e Vixenu - aquele que usa vestes amarelas, e o ovo cósmico brilha como ouro. É o veículo da juventude, do vigor e da eternidade divina. O amarelo é considerado cor de luz, divina ou não. O amarelo é possuidor do dourado. A luz de ouro se torna, por vezes, um caminho de comunicação nos dois sentidos, um mediador entre os homens e os deuses.
Na cosmologia Mexicana, o amarelo-ouro é a cor da pele nova da terra, no início da estação das chuvas, antes que se faça verde de novo. Está então associada ao mistério da renovação. O amarelo-ouro era o atributo de Mitra na Pérsia e de Apolo na Grécia.
Sendo a essência divina, o amarelo-ouro se torna, na terra, o atributo do poder dos príncipes, reis, imperadores, para proclamar a origem divina do seu poder.
Os ramos verdes de Cristo, na sua passagem terrestre, são substituídos por uma auréola dourada quando ele retorna ao pai. No domingo de Ramos na Espanha, é com palmas amarelas que os fiéis acenam nas catedrais. O amarelo é a cor da eternidade, como o ouro é o metal da eternidade. Um e outro são a base do ritual cristão. O ouro da cruz na casula do padre, o ouro do cibório (vaso sagrado onde se guardam as hóstias), o amarelo da vida eterna, da fé, se unem à pureza original do branco na bandeira do Vaticano.
É também em meio a todos esses ouros, a todos esses amarelos que os padres católicos conduzem os defuntos para a vida eterna. Em diversas tradições orientais, o dos cães infernais, como o do Zend Avesta, que tem os olhos amarelos. - para melhor penetrar o segredo das trevas - e as orelhas tingidas de amarelo e de branco.
Nas câmaras funerárias egípcias, a cor amarela é a mais freqüentemente associada ao azul, para assegurar a sobrevivência da alma, pois que o ouro que ela representa é a carne do Sol e dos deuses. Essa presença do amarelo no mundo ctoniano, sob pretexto da eternidade, introduz o segundo aspecto simbólico dessa cor terrestre.
O amarelo é a cor da terra fértil, o que fazia com que se recomendasse, na China, a fim de assegurar a fertilidade do casal, que se pusessem em completa harmonia o Yin e Yang, que as vestes, as cobertas e os travesseiros do quarto nupcial fossem de gaze ou seda amarela. Mas essa cor das espigas maduras do verão já anuncia a do outono, quando a terra se desnuda, perdendo seu manto de verdura.
Ela é então a anunciadora do declínio, da velhice, da aproximação da morte. Ao fim, o amarelo se torna o substituto do negro. Assim, para os índios Pueblo, Tewa, é a cor do Oeste; para os Astecas e Zuni, é a do Norte ou do Sul, quando associam uma com a outra dessas duas direções com os mundos inferiores.
No tantrismo búdico, o amarelo corresponde, ao mesmo tempo, ao centro-raiz (Muladarachakra) e ao elemento terra, e a Ratnasambavap, cuja luz é de natureza solar. Negra ou amarela é também, para os chineses, a direção do Norte e dos abismos subterrânos onde se encontram as fontes amarelas que levam ao reino dos mortos. É que as almas que descem até as fontes amarelas, ou o yang, que por lá se refugia durante o inverno, aspiram à restauração cíclica da qual o solstício do inverso é a origem. Se o Norte, se as fontes amarelas são de essência yin, são também a origem da restauração do yang.
O amarelo está associado ao negro como seu oposto e seu complementar. O amarelo se separa do negro no momento da diferenciação do caos: a polarização da indiferenciação primordial se faz em amarelo e negro - como em yang e yin, em redondo e quadrado, em ativo e passivo. O amarelo emerge do negro, na simbologia chinesa, como a terra emerge das águas primitivas. Se o amarelo é, na China, a cor do Imperador, é efetivamente por estar estabelecido no centro do Universo, como o Sol está estabelecido no centro do céu.
O amarelo está ligado ao adultério, quando se desfazem os laços sagrados do casamento, à imagem dos laços sagrados rompidos por Lúcifer, com a nuança de que a linguagem comum acabou por inverter o símbolo, atribuindo a cor amarela ao enganado, quando ela cabe, originariamente, ao enganador, como o atestam muitos outros costumes. A porta dos traidores era pintada de amarelo a fim de atrair para ela a atenção dos transeuntes nos séculos XVI e XVII. Desde o Concílio de Latrão IV (1215) os judeus foram obrigados a levar uma rodela amarela costurada à roupa. O Dictionnaire de Trevous (1771) garante que é costume açafroar, pintar de amarelo açafrão, as casas dos falidos.
Muitas marcas(Mc e Habib's) fazem uso do amarelo e do vermelho, onde o amarelo indica vazio e o vermelho calor, o que sugere fome ou até sede. A cor amarela, assim como o vermelho, é uma cor que chega facilmente aos olhos. É controladora de estímulos visuais e depois de algum tempo, ela pode trazer um pouco de desconforto e fadiga.
Quando os sindicalistas chamam de "amarelo" o operário que se dessolidariza da sua classe. Eles estão, sem saber, recorrendo das mesmas fontes simbólicas em que os nazistas foram buscar na idéia de aplicar a estrela amarela aos judeus. Mas é possível que os judeus, intervendo a valorização do símbolo, vejam nessa estrela (de seis pontas), não um sinal de infâmia, mas a gloriosa luz de Jeová.
A valorização negativa do amarelo é, igualmente, atestada nas tradições do teatro de Pequim, cujos atores se maquilam de amarelo para indicar a crueldade, dissimulação, o cinismo e expressam pelo vermelho a lealdade e a honestidade. Todavia, nesse mesmo teatro tradicional, os costumes dos príncipes e imperadores - indicando, aí, não a psicologia, mas a condição social dos personagens - são também amarelos. Essa utilização da cor amarela no teatro chinês leva em conta a ambivalência que lhe é própria e que faz do amarelo a mais divina das cores e, ao mesmo tempo, a mais terrestre, segundo a expressão de Kandinsky.
Material de consulta: Dictionnaire Des Symboles - Livro Francês traduzido por Vera da Costa, Raul de Sá, Angela Merlim e Lúcia Merlim.
Fonte: http://imasters.uol.com.br/artigo/3311/teoria/o_amarelo/
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário